Toda decisão que tomamos, não importa em qual aspecto de nossas vidas, tem a capacidade de alterar significativa e permanentemente não apenas nosso rumo, mas também o rumo do mundo ao nosso redor que, consequentemente, reflete em nós as consequências. Portanto, por mais trivial que uma decisão possa parecer, é sua responsabilidade compreender o grau de impacto que ela possui em si mesmo e nos outros.
Dentre os 7 Macro Aspectos da Decisão, não é coincidência que o primeiro destes é representado pelos Valores Pessoais Primordiais, que imprimem a significância de cada decisão em nossas vidas.
Valores Pessoais Primordiais
Valores Pessoais Primordiais são aqueles que pautam nossa vida, que guiam nossos passos e definem como nos sentimos e reagimos a cada situação que a vida nos apresenta. Existem, por exemplo, Valores Pessoais Primordiais Sociais, que ditam nossa atuação com relação à sociedade, à vida em comunidade, ao coletivo. Pode-se citar como parte destes valores, por exemplo, o respeito mútuo, o sacrifício pelo bem maior, a aceitação pela vontade da maioria, e assim por diante.
Os Valores Pessoais Primordiais mais conhecidos, ou que vêm com mais facilidade à mente, são os que tratam da moral, como a integridade, honestidade, lealdade, sinceridade, dentre outros. Ou seja, todos que dizem respeito à nossa imagem social, como queremos ser vistos pelas outras pessoas, independente de conscientemente nos importarmos ou não.
Muitas vezes confundimos estes valores com quem somos, porque alguns em especial nos afetam diretamente de forma emocional e psicológica como, por exemplo, não machucar um filhote indefeso. Machucar ou não um filhote indefeso depende muito do contexto e da perspectiva. O que para uns é algo abominável, para outros é necessário, ou até mesmo para a mesma pessoa que julgava este ato, até então, abominável, dependendo do contexto.
Entretanto, nos identificamos com alguns valores específicos conforme somos apresentados a cada um deles ao longo da vida, de acordo com a maneira pela qual temos este primeiro contato, e de acordo com nossa criação (realidade individual) e características pessoais, que nos permitem distinguir e compreender as mesmas coisas de formas diferentes de outras pessoas. Prova disto, é que ao longo da vida tendemos a rever estes valores periodicamente, exatamente por nossa perspectiva ser plenamente mutável.
São nestes momentos de revisão de nossos valores que surge a nuance entre o que acreditamos (crenças) e o que, de fato, praticamos (valores reais). Posso, por exemplo, afirmar com plena convicção que um de meus mais importantes Valores Pessoais Primordiais é o da lealdade, visto a forma como este valor me fez sentir desde meu primeiro contato com ele, e dada minha realidade no momento. Entretanto, com o passar do tempo e por não revisitar este valor, posso não perceber que ele já não mais possui grande peso em minha vida, e quando apresentado a um cenário no qual posso me beneficiar significativamente ao abrir mão da verdade e prejudicar uma pessoa amada e inocente como consequência, instintivamente posso deixas de lado a lealdade sem perceber e, quando confrontado sobre minha lealdade, me sentiria absurdamente ofendido, visto que em meu consciente estou acostumado a defender este valor, sem perceber que inconscientemente ele já não mais serve para quem sou hoje. Lembrando que foi apenas uma hipótese para exemplificar.
Caso não tenha percebido ao longo de sua vida o quanto estes Valores Pessoais Primordiais afetam tudo dentro de você e, consequentemente, ao seu redor, observe que um único Valor Pessoal Primordial diferente pode separar defensores de assassinos em nossa sociedade. Inclusive, aquela pessoa que você tanto odeia porque destruiu sua carreira, um relacionamento amoroso, ou seu brinquedo favorito na infância, pode ter apenas um Valor Pessoal Primordial diferente de você.
Agora vamos traduzir o que mais interessa sobre este assunto, com relação à tomada de decisão. Existem 3 pontos principais para se atentar ao olhar para uma decisão em sua vida, não importa se trata-se de negócios, relacionamentos, compras, ou outros aspectos.
1. Seus valores pessoais primordiais estão nítidos para você?
Afinal de contas, é preciso “enxergar” o chão à frente antes de pisar. Antes de mais nada, precisamos saber exatamente o que nos guia, visto que um único Valor Pessoal Primordial pode mudar absurdamente nosso rumo e de tudo ao nosso redor.
Portanto, se no último ano você não revisitou seus Valores Pessoais Primordiais, posso afirmar com 100% de assertividade que este é o primeiro Fator Crítico de Erro de suas decisões. Ou seja, você não está sendo você mesmo em sua tomada de decisão na vida.
Já ouviu falar em transtorno dissociativo de personalidade (conhecido anteriormente como transtorno de múltipla personalidade)? Em suma, é um transtorno caracterizado pela existência de duas ou mais personalidades distintas e relativamente permanentes em uma única psique. Quando uma das personalidades assume o controle do consciente, as demais não tomam conhecimento dos atos por ela realizados, salvo exceção quando uma personalidade internamente compartilha com a outra (elas podem possuir contato direto dentro do subconsciente).
Dito isto, imagine comigo, me acompanhe!
Você está prestes a tomar uma decisão que mudará absurdamente sua vida. Já fez todas as pesquisas em busca de opiniões e informações adicionais para se balizar, pesou os prós e contras, chegou até a simular cenários para enxergar as possibilidades (principalmente se você for metódico e criativo como eu). Chegou o grande dia de informar ao mundo sua decisão, de fazê-la valer, de mudar sua vida para a melhor! Você acordou motivado como nunca, teve todo o cuidado de se preparar como se estivesse indo ao seu casamento (se não for esta a decisão), você vai em direção à porta de sua casa e, de repente, tudo se apaga! Nada à sua frente nem ao seu redor, NADA! Como um desmaio.
De repente você acorda. Mas espere! Onde você está? Que lugar é este? Não é sua casa, nem um hospital! Que roupas são essas? Você não estava vestido assim! Você procura pelo smartphone…aí está ele! Que horas são? Espere………..que dia é hoje??? Passaram-se ANOS! Mas como? O quê…?! Você se sente como em um pesadelo, ou um filme de ficção dos bem cruéis. Talvez você já saiba, talvez não, mas durante todo este tempo desde o seu apagão, foi outra personalidade que assumiu sua vida, e você não tem a menor ideia do que ela fez com aquela decisão tão crucial, e com todo o resto de sua vida.
Agora respire fundo…você ainda está apenas lendo este artigo, agradeça! Ou ainda não, pois é exatamente isto que acontece quando você não tem plena ciência quanto aos seus Valores Pessoais Primordiais, quando eles não estão nítidos como cristal para você. É como se outra pessoa estivesse tocando sua vida em seu lugar e, acredite, certamente você não ficará feliz com o resultado. Aliás, será que está agora? Há quanto tempo outras personalidades estão tomando decisões por você, e nem se deu conta, apenas sente as consequências? Este é o grau de importância que esta clareza tem em sua vida.
Acalme seu coração e vamos para o próximo item, falta pouco para acabar este artigo, continue comigo!
2. Quantos de seus Valores Pessoais Primordiais as alternativas de sua decisão respeitam?
Meu pai me ensinou algo muito importante e marcante em seu leito de morte. Ele me disse, certamente refletindo sobre tudo que fez e que deixou de fazer em sua vida, o seguinte: “Infelizmente a vida nem sempre nos permite agir como acreditamos ser melhor ou correto, faz parte”.
Esta lição me marca muito até hoje, não tanto quanto no momento, obviamente devido ao contexto todo da ocasião. Relembrar periodicamente esta lição me ajuda a tirar um peso significativo das costas, sempre que pego tendo pouca ou nenhuma compaixão comigo mesmo. E devemos ter compaixão com nós mesmos, exatamente por fazermos o melhor com o que temos, e assumir que estes pontos de inflexão fazem parte da nossa jornada de desenvolvimento para a melhor versão de nós mesmos.
É importante ter isto em mente, porque nem sempre as alternativas que encontrarmos para uma dada decisão respeitarão todos os nossos Valores Pessoais Primordiais, e tudo bem, a vida é imprevisível e incontrolável, nós apenas escolhemos como reagir a ela.
Sendo assim, agora que você está refletindo sobre seus Valores Pessoais Primordiais, pense em todas as alternativas para a decisão a ser tomada. Quantifique quantos destes valores são respeitados em cada uma das alternativas.
Este é um excelente medidor de qualidade para as alternativas que você identificou para sua decisão, pois é relativamente simples comparar quantidades. A alternativa que respeitar a maior quantidade de Valores Pessoais Primordiais já possui um ponto adicional no placar de “decisão mais benéfica a ser tomada”.
Neste momento, fique muito atento, pois é normal uma alternativa de decisão desrespeitar até 25% de seus Valores Pessoais Primordiais. Entretanto, se alguma alternativa desrespeitar mais do que isto, há algo muito errado e, ou suas alternativas precisam ser revistas, ou seus Valores Pessoais Primordiais. Atente muito para isto, pois é isto que dará espaço para suas “outras personalidades” tomarem sua vida para elas, se é que já não tomaram. Atente muito. Muito. Eu já disse “muito”?!
3. Alguma das alternativas da decisão lhe faz refletir sobre a possibilidade de rever seus Valores Pessoais Primordiais? O que lhe faz sentir a necessidade de rever seus Valores Pessoais Primordiais?
E chegamos até aqui! O momento de reflexão e revisão. Se este momento chegou naturalmente, dê a ele a devida atenção.
Aceite que adaptar-se é sobreviver e que, portanto, devemos ser flexíveis e mutáveis ao longo da vida. Mas em qual grau de magnitude? Esta é a questão!
Se alguma alternativa lhe fez repensar sobre um ou mais de seus Valores Pessoais Primordiais, não se deixe enganar pela atenção que seu consciente dá ao julgamento de seus valores em si, e sim ao que motivou seu consciente a chegar a este ponto. Traduzindo: leia as entrelinhas.
Revisar apenas para mudar temporariamente algum Valor Pessoal Primordial, mentindo para si mesmo, única e exclusivamente para atender aos próprios caprichos, com a desculpa de que “Poxa, mas você acabou de dizer que adaptar-se é sobreviver, que devemos ser flexíveis e mutáveis ao longo da vida!”, é estupidez, e é também o mesmo que terminar um relacionamento antes do Carnaval e voltar logo em seguida, só para dizer que não traiu a pessoa ao seu lado. É estupidez.
Adaptação, flexibilidade e mutação, assim como a própria natureza nos prova a cada dia, são justificáveis única e exclusivamente quando necessário para garantir que o todo (espécie, habitat, ciclo) seja perpetuado. Seja realista e honesto consigo mesmo sobre as reais motivações de rever seus Valores Pessoais Primordiais a partir de dada alternativa para uma decisão, pois esta honestidade consigo mesmo é o que definirá a qualidade da decisão, e certamente a forma como você reagirá ao resultado da decisão em si.
Encare este momento com a devida importância: revitalizar e trazer harmonia mais uma vez à relação entre sua identidade como ser humano e os Valores Pessoais Primordiais que o guiam e dão sentido à sua existência.
Palavras Finais
Agora você já sabe como dar o primeiro passo rumo às melhores decisões de sua vida: ter claro seus Valores Pessoais Primordiais, dar peso a cada alternativa de decisão, e rever seus Valores Pessoais Primordiais, caso realmente necessário. E antes de tomar a decisão, siga os próximos passos dos 7 Macro Aspectos da Decisão, que são a base para a plena integração e harmonia entre quem você realmente é e as decisões que guiam sua vida como um todo.
Desejo que neste momento tudo esteja muito mais claro para você, com relação à significância de cada decisão em sua vida. Observe que os Valores Pessoais Primordiais constituem apenas um dos 7 Macro Aspectos da Decisão. Espero que este artigo tenha lhe conduzido a uma profunda reflexão sobre esta pequena parte do ciclo de tomada de decisão.
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Quanto mais pessoas recebem este conhecimento, mais realizado me sinto, pois faz parte dos meus Valores Pessoais Primordiais. Quais são os seus?