Esta é a transcrição do mais novo episódio do podcast #SuaMelhorDecisão, que você pode conferir na íntegra através do Spotify, YouTube, Amazon Music, ou PodBean. Veja os links em #SuaMelhorDecisão

Uma das fontes mais importantes utilizadas em nossas decisões é nossa memória.

Buscamos nela todas as informações e experiências que sejam relevantes para a decisão que queremos tomar, mas até onde nossa memória é realmente confiável?

Seu cérebro captura as informações ao seu redor, armazena, e você as acessa quando necessário, correto? Errado! O cérebro faz coisas como decidir que determinada informação é mais importante do que outra, sem seu consentimento prévio, ordena informações de forma incoerente, acessa memórias aleatoriamente ao longo o dia, fazendo você relembrar coisas desnecessárias e até embaraçosas, e até mesmo decide por conta própria alterar determinadas informações. Nossa memória é plástica, ou seja, é maleável, flexível, e é constantemente alterada e moldada pelo nosso cérebro, de acordo com seu julgamento quanto às nossas necessidades, e totalmente sem nossa intervenção, consentimento ou conhecimento.

Ainda acha que sua memória é totalmente confiável?

Você está em casa descansando e lembra ou decide fazer algo na cozinha, então você caminha até lá, mas no meio do caminho se distrai com uma mensagem de WhatsApp, e logo que você responde a mensagem e chega à cozinha, se pergunta: “O quê eu vim fazer aqui mesmo?”. Quem nunca?

Em nosso cérebro existe a divisão entre memória de curta duração e memória de longa duração. Fato científico: a memória de curta duração consegue manter as informações latentes no máximo por 1 minuto, acredite, enquanto toda informação que dura mais do que 1 mísero minuto é armazenada na memória de longa duração, que pode mantê-las por sua vida toda, dependendo da manutenção delas.

A memória de curta duração é onde ocorre nosso pensamento consciente, é o processo que utilizamos para pensar, basicamente. Enquanto a memória de longa duração serve como repositório para consultas solicitadas pelo nosso ato de pensar através da memória de curta duração.

A memória de curta duração também tem a limitação natural de armazenar apenas 4 elementos simultaneamente. Em diversos experimentos, sem a utilização de técnicas, voluntários foram capazes de lembrar rapidamente apenas 4 palavras de listas apresentadas com diversas outras em um intervalo de 1 minuto. Existem técnicas para conseguir aproveitar de forma melhor esta limitação de espaço da memória de curta duração, por exemplo, agrupando itens.

Memória de curta duração não possui uma base física para armazenamento, pelo contrário, as informações são armazenadas em padrões de atividades específicos nos neurônios, enquanto a memória de longa duração é baseada em novas conexões neurais suportadas pelas sinapses, o que as fazem ter uma base sólida não somente para sobreviver ao longo do tempo, mas também para permitir que sejam reforçadas continuamente através de repetições. Cada repetição de uma mesma informação na memória de longa duração gera o reforço físico do canal de comunicação entre os neurônios, a chamada sinapse, que recebe uma nova camada física formada por uma substância chamada mielina, que não somente reforça a existência daquela informação, como aumenta a velocidade de transmissão dela a cada nova camada criada, exatamente como um upgrade.

Mas como determinada informação passa da memória de curta duração para a de longa duração? Através de um processo chamado “codificação”, e de tempo. Basta a informação ser retida por tempo suficiente na memória de curta duração, para que a memória de longa duração tenha tempo para codificá-la nas sinapses neurais. E quando a informação não fica tempo suficiente para este processo ser finalizado, ela é substituída por outra informação na memória de curta duração, reiniciando o processo de codificação mais uma vez, e como todo processo, este ciclo continua indefinidamente.

Estas foram informações em um nível muito básico sobre nosso processo de memória, existe um mundo imenso abaixo desta superfície, como os processos químicos que suportam a execução deste processo, as partes do cérebro envolvidas nele, como algumas memórias são mais latentes, enquanto outras são tão difíceis de acessar, como a alimentação afeta este processo, como provamos que as memórias existem fisicamente no cérebro e onde, os diferentes estágios da memória de longa duração, a relação entre o álcool e a memória, porquê lembramos de rostos antes de nomes, e muito mais.

Mas, por hora, vamos partir para a relação deste processo com a tomada de decisão.

Durante o processo de tomada de decisão, existe a análise externa, que trata de processar tudo que for relevante ao nosso redor, e a análise interna, que trata de buscar informações e experiências armazenadas em nossa memória e alinhá-las com os resultados da análise externa, com o intuito de nos fornecer o melhor panorama possível de alternativas de decisão com os recursos disponíveis.

Durante a análise interna, a memória é intensamente acessada em busca de informações e experiências, que também trazem consigo emoções e padrões cognitivos associados às memórias, fazendo com que nossa decisão no presente não seja realmente tão presente assim, e sim uma mescla com influências do passado.

Em ambos os casos, tanto durante a análise interna quanto durante a externa, existem falhas e limitações como, por exemplo, padrões cognitivos, crenças e aspectos sociais, além de muitos outros. Por hora, vamos focar apenas na análise interna, especificamente no quesito memória.

Quando você acessa sua memória para obter informações para tomar uma decisão, estas informações podem ter perdido sua integridade, já que o cérebro molda as memórias ao longo do tempo de acordo com o que ele acha prioritário. Simplificando: imagine que você está conversando com seu marido ou sua esposa, sobre uma festa que vocês frequentaram há 7 anos, e você jura que sua tia Clara estava presente, mas seu marido ou esposa tem certeza que ela não estava. E aí, o que você faz?

A memória de um dos dois pode ter sido alterada ao longo do tempo, tanto para justificar a presença da tia Clara, quanto para apagá-la da festa. E como saber, não quem está certo, mas quem não teve a memória alterada? Por hora, o que pode ser feito é ambos darem um passo atrás e reverem outros trechos de memória da época para descobrir algo que justifique uma das possibilidades, um trabalho investigativo. Por exemplo, buscando outras lembranças que citem que a tia Clara estava viajando na época, ou que estava trabalhando. Aí vocês começam a misturar um monte de informações não confiáveis de várias memórias diferentes, e vira uma discussão.

Às vezes é melhor não tentar ter a razão, e agora você entende melhor o motivo. Neste cenário, nenhum dos dois é culpado, ambos são apenas humanos, com suas memórias naturalmente confusas às vezes, e não é uma falha de memória no final das contas, é simplesmente como este processo funciona, aceite o que você não pode mudar.

Mas e quando este cenário envolve algo realmente importante, como um processo criminal? A memória das testemunhas, como de todos nós, é tão confiável quanto você discutindo sobre a tia Clara na festa. Agora some à esta equação um viés cognitivo como o Viés da Autoridade, que faz com que o você dê  maior peso à palavra de uma autoridade, conferindo uma confiabilidade maior, simplesmente pelo fato da pessoa representar uma autoridade.

Neste cenário, se uma autoridade questionar uma testemunha sobre a cena do crime, ela pode ser induzida inconscientemente a criar novos fatos em sua memória para corroborar a palavra da autoridade. Outro fator que impacta diretamente a memória neste cenário, é a abordagem da questão em si. Se a autoridade, digamos um advogado, por exemplo, questionar se a testemunha estava no local no exato instante do crime, a testemunha pode consultar sua memória e confirmar que esteve no local, mas talvez não exatamente quando o fato aconteceu. Mas se o advogado questionar com que braço o criminoso apunhalou a vítima, o que sugere diretamente que a testemunha presenciou o fato, a testemunha facilmente pode se sentir inclinada a assumir que estava presente no local e, portanto, viu que foi com o braço direito, implantando a memória de que ela realmente viu o ato.

Sim, nossa memória é delicada e susceptível a este ponto, acredite. Inclusive, caso você fique refletindo intensa e continuamente sobre uma memória específica, tentando tirar novas conclusões para sua decisão, você pode criar conscientemente novas informações nesta memória, afetando por completo sua confiabilidade e criando um cenário fictício.

Outras condições podem levar à criação de falsas memórias, além de outras distorções. Este tema é espetacular e renderá muito ainda neste podcast, principalmente porque com conhecimento, fica claro que sabemos naturalmente pouquíssimo sobre tomada de decisão, mas sabemos infinitamente menos sobre nossa própria memória. Então cuidado com suas memórias ao tomar uma decisão, não se apoie somente nela, existem outros aspecto e técnicas para equalizar esta equação, confie em mim.

 

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